Actividade motora e toxicodependência: estudo sobre o efeito de um programa específico de actividade física numa população toxicodependente

Data
2004
Autores
Saavedra, Francisco José Félix
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Resumo
A relação entre a actividade física e a saúde, tem vindo a ser gradualmente associada com a qualidade de vida, a qual tem sido incorporada no discurso da Educação Física e das Ciências do Desporto, em função da relação positiva que se estabelece entre a actividade física e melhores padrões de saúde e bem-estar. A evidência de que o homem contemporâneo utiliza cada vez menos as suas potencialidades corporais, associada ao baixo nível de actividade física, assume-se como factor decisivo no desenvolvimento de doenças degenerativas. Deste modo, é necessário promover mudanças no estilo de vida, incorporando a prática de actividades físicas no quotidiano. É necessário despertar o indivíduo para o valor do exercício físico, como factor de melhoria da qualidade de vida, bem-estar e saúde. O presente estudo, centra-se na análise do efeito de um programa de treino de força e musculação, sobre toxicodependentes. Procurámos, verificar, de que forma a actividade física como elemento de terapia, pode contribuir para suprir lacunas ao nível: (i) psicológico, (ii) da condição física e (iii) observar como, varia a concentração plasmática, de alguns neuromediadores, indicadores de stress social, através da aplicação de um programa de treino, com a duração de 10 semanas, adaptado em quantidade (volume e frequência) e qualidade (intensidade, individualização das cargas, meios e métodos de treino mais específicos), às características da população em estudo. De acordo com as questões centrais de investigação, e na procura de respostas, realizámos o trabalho experimental, com uma amostra constituída por 52 indivíduos de ambos os sexos, residentes na Clínica RAN. O paradigma da nossa pesquisa, apresenta um desenho e delineamento experimental, em que temos dois grupos de estudo (grupo experimental versus grupo controlo), ambos submetidos a dois momentos de avaliação (avaliação diagnostica e avaliação final – escala de ansiedade - EAESDIS de Watson e Friend (1969), aptidão motora (Bateria Eurofit) e análises bioquímicas (serotonina e catecolaminas fraccionadas). No entanto, só um deles (grupo experimental) é sujeito ao programa de exercício físico, para o desenvolvimento da capacidade física – força muscular (10 semanas, 3 sessões/semana). Para tratar e analisar os resultados fizemos, para todas as variáveis, o cálculo da média e do desvio padrão, e assim podermos descrever o conjunto de dados recolhidos. Na análise inferencial, com o intuito de verificar a presença ou a ausência de ganhos, após a aplicação do programa de treino, aplicámos testes paramétricos para medidas repetidas, teste t para amostras independentes, com um nível de significância de p _ 0.05. As associações das variáveis em estudo foram analisadas através do coeficiente de correlação de Pearson (r). Os resultados, inerentes ao tratamento estatístico, revelaram (i) melhor aptidão psicológica do grupo experimental, (ii) relativamente ás dimensões e factores de índole da condição física existiram diferenças bastante acentuadas entre os dois grupos em estudo e (iii) não se verificaram diferenças entre os grupos experimental e controlo, relativamente aos neuromediadores estudados. Assim, da interpretação dos resultados, parece-nos poder afirmar que o programa de exercício de força muscular, aplicado a toxicodependentes em recuperação, quando realizado de forma regular e sistemática, conduz a melhorias do nível de ansiedade social e da condição física, não apresentando alterações significativas ao nível dos neuromediadores. Como conclusão, pensamos poder inferir, que a aplicação de um programa específico de actividade física a toxicodependentes, num percurso de recuperação, para além da melhoria generalizada dos parâmetros psicológicos e da condição física, também possibilita outros ganhos que directa ou indirectamente se poderão revelar bastante importantes, para o toxicómano, como também, para a sociedade em que ele se insere, ou melhor dizendo se irá reinserir; como por exemplo: o desenvolvimento da auto-estima, do auto-conceito, efeitos positivos sobre estados depressivos, de ansiedade, stress e bem-estar psicológico. Julgamos que todos estes factores irão proporcionar, ao indivíduo, em recuperação, ser um cidadão digno e de plena interacção consigo, com a família a sociedade e o mercado de trabalho. O exercício físico, poderá ser mais uma ferramenta, na forma salutar de ocupar o tempo livre, de modo, mais agradável e acima de tudo prevenindo a recaída de um comportamento de risco.
Descrição
Tese de Doutoramento em Ciências do Desporto
Palavras-chave
Actividades físicas , Toxicodependência , Comportamento motor , Psicoterapia motora
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